quinta-feira, 29 de março de 2007

O Apartheid Futebolístico: a Liga da Canela Preta

ESPORTE E MITO DA DEMOCRACIA RACIAL NO BRASIL:
MEMÓRIAS DE UM APARTHEID NO FUTEBOL

por Gilmar Mascarenhas de Jesus

É difícil precisar o momento de fundação da Liga "Nacional" de Football Portoalegrense, a liga dos negros(5) . Podemos situar seu início em meados da década de dez, a partir da constatação da apropriação, desde 1911/12, do abandonado campo do SC Internacional pela população negra local que, numerosa, teria provavelmente possibilidades de organizar alguns times de futebol.

Sua oficialização pode ter ocorrido no final daquela década. Consta que contava no início com os seguintes clubes: Primavera, Bento Gonçalves (famoso clube que excursionou com êxito pelo interior do estado em 1923), União, Palmeiras, Primeiro de Novembro, Rio-Grandense, 8 de Setembro, Aquidabã e Venezianos.

Em 1922, a liga "branca" criou sua segunda divisão e nela abriu oportunidades para jogadores e clubes negros, fato que os atraiu progressivamente, acionando uma lenta e gradual decadência da Liga da Canela Preta (6). Interessante registrar que o sr. Francisco Rodrigues (pai do famoso compositor Lupicínio Rodrigues) dirigia o Rio Grandense, clube que gerou polêmica no interior da liga por definir-se como "mulato": somente mulatos e mulatas poderiam torcer pelo clube (7).

Cardoso (1962:302) alerta para a emergência deste movimento "mulato", que realiza uma polêmica diferenciação interna na comunidade negra, alvo de críticas e reações violentas por parte dos militantes da "raça". Observa o autor a existência em 1915 de associações exclusivas para "mulatos", numa estratégia de ascenção social através da negação da negritude.

Sendo o "outro" numa cidade cindida, o negro encontra no mimetismo em meio aos brancos uma forma de obter aceitação na sociedade. Cardoso (1962:298) visualiza uma pequena burguesia negra, originária de artesãos urbanos do século XIX, que se educou e que se expressa no periódico O Exemplo. Este jornal, em determinadas épocas, promove um discurso de pregação de "boas maneiras" aos negros, o que é uma forma de branqueamento, via aceitação de um código de conduta. Tais negros poderiam assim se tornar "protegidos", isto é, submeter-se a chefes de parentelas poderosos, capazes de abrir determinandas "portas", reproduzindo a velha ordem senhorial, agora numa sociedade capitalista. Esta "mobilidade social controlada" (Cardoso, 1962:299) podemos verificar também no futebol: no SC Internacional dos anos 20, havia uma "resistência oculta", só permitindo praticamente o acesso de mulatos e ainda assim bem credenciados (8).

Infelizmente, esta liga até o presente momento raramente frequentou as páginas da literatura futebolística (acadêmica ou não). Coimbra e Pinto (1994:30), Guimaraens (1985:16), como outros, trazem vagas referências. Endler (1984:16), afirma que a liga teve "vida forte" até 1925. Baseado em depoimentos do ex-jogador Osvaldo Rola (o "Foguinho"), Guimaraens aponta a existência de três importantes ligas no futebol portoalegrense em torno de 1920: a principal, vulgarmente denominada Liga do Sabonete, composta por elementos da elite (a "nata do futebol da cidade"), que entravam em campo impecavelmente trajados; a liga intermediária, ou liga do sabão, composta por elementos da "classe média baixa": pequenos comerciários e clubes de etnias minoritárias como o Concórdia, de poloneses; por fim, a liga das canelas pretas (assim, no plural), disputada "somente por times de jogadores negros que não eram aceitos pelas outras equipes".

Considerando-se que Porto Alegre é um dos mais centros de prática do futebol no Brasil (Jesus, 1998), é de se notar a lentidão local em permitir o acesso de negros na liga principal. É amplamente conhecido o caso do Gremio FBPA, que apenas admitiu pela primeira vez um jogador negro em 1952, e ainda assim por se tratar de Tesourinha (um dos maiores talentos já vistos no Brasil, e recusado pelo rival SC Internacional).

Acreditamos que tal cenário tem ampla relação com a estrutura urbana de Porto Alegre: a presença de guetos negros e outros bairros étnicos (Pesavento, 1991:42) pode ajudar a explicar a segregação racial reinante no futebol local. A liga da canela preta e toda a rejeição por parte da liga branca são fatos que não podem ser isolados da dinâmica urbana. Em síntese, o futebol não pode ser tratado como um epifenômeno, alheio à sociedade envolvente.

Por fim, cabe uma nota para a denominação oficial da liga: parece-nos curioso a utilização do adjetivo "nacional". Este pode estar sugerindo a condição nativa, "da terra", quiçá criticando a larga presença na liga "branca" de não-brasileiros: argentinos e uruguaios, por um lado; alemães, italianos e até poloneses, e seus descendentes, por outro. Estes últimos seriam brasileiros, porém menos "brasileiros" que aqueles negros com algumas gerações nascidas em nosso território (lembrando que o Rio Grande do Sul foi uma das maiores províncias receptoras de escravos, e que os negros correspondiam em 1874 a 21% da população gaúcha)(9).

Por outro lado, vale indagar sobre a denominação vulgar e sua ampla difusão. Ao estudar a Colônia Africana, Cláudia Mauch (1988) deparou-se com a seguinte situação: a imprensa promoveu larga campanha adversa, difamando tal comunidade, tornando-a conhecida no imaginário da cidade, ao mesmo tempo em que a literatura acadêmica silencia sobre a mesma (10).

A liga da "canela preta" também padece deste paradoxo: muito poucos a conhecem, porém muitos já ouviram falar. Outra semelhança entre ambas (além de contituirem territorialidades da segregação racial portoalegrense), é a carga altamente pejorativa. Segundo Pesavento (1998), "o léxico que designa espaços e lugares da cidade mediatiza valores, julgamentos e preconceitos, condenando práticas sociais e atores". A denominação oficial da liga ficou praticamente esquecido da memória urbana, em favor de um registro que despreza, ironiza e atribui um sentido de estranhamento e alteridade: aquelas "canelas" são diferentes, fojem ao padrão, elas são "pretas".


CONCLUSÃO

A partir do que foi exposto neste trabalho, podemos levantar ao menos duas indagações. Primeiramente, até que se prove o contrário, sabemos que todas as primeiras ligas de futebol criadas no Brasil eram de acesso restrito a indivíduos de cor branca e bem colocados na estrutura econômico-social. E que os negros e brancos pobres se organizaram na várzea e na periferia até adquirir paulatinamente lugar na liga principal. Seria importante saber se a formação de ligas de futebol de acesso exclusivo aos negros foi uma característica exclusiva do futebol gaúcho.

Conforme já foi dito aqui, carecemos profundamente de estudos sistemáticos sobre a inserção do negro na evolução do futebol no Brasil. O pouco já levantado recobre uma parcela ínfima do território nacional, não permitindo a menor generalização, enquanto procedimento científico legítimo (11). Há séculos, unidades da Federação como Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Maranhão, entre outras, aportam em seu estoque demográfico respeitáveis percentuais de negros, e muito pouco sabemos sobre a participação destes na história social do futebol regional (12).

A existência de ligas como a da "canela preta" parece não encontrar suporte na dinâmica geral das relações inter-raciais no Brasil. Se a tal "democracia racial" constitui sabidamente um discurso há muito constestado severa e consistentemente por renomados estudiosos como Octavio Ianni e Florestan Fernandes, por outro lado não devemos esquecer que o Brasil desenvolveu um racismo de natureza peculiar.

O caso estudado, entretanto, aponta para um cenário que, ao menos durante poucos anos (até 1922, quando se abre um estreito canal de absorção de negros na segunda divisão da liga "oficial"), oferece evidências de uma segregação racial abertamente instituída. Surge-nos então a segunda indagação: que conjuntura sócio-espacial propiciou o surgimento de tais ligas no Rio Grande do Sul? Este questionamento parece suscitar algumas particularidades da sociedade gaúcha em relação à questão racial, que podem por fim apontar razões para a possível exclusividade de suas ligas negras no panorama racial brasileiro.

Apesar das imensas "lacunas" da literatura acadêmica (são na verdade verdadeiros abismos a inviabilizar qualquer resposta sensata à questão colocada), ousamos um encaminhamento através de Gitibá Faustino (1991:97) que afirma que o Rio Grande do Sul "sempre se caracterizou por ser um Estado (sic) onde o racismo atinge dimensões bem maiores que o resto do Brasil". Não detemos elementos empíricos ou mesmo instrumentos metodológicos para tentar aquilatar o grau de racismo entre os gaúchos, tarefa aliás pouco sensata, considerando-se o racismo um fenômeno de grande complexidade, impróprio para ser quantificado em gradientes. Entretanto, é interessante observar a forte tendência entre os negros no Rio Grande do Sul a formatar uma territorialidade e uma sociabilidade à parte da sociedade "branca".

Queremos enfatizar neste trabalho a necessidade de um amplo e prolongado esforço de pesquisa no sentido do preenchimento de imensas lacunas que persistem acerca do negro no futebol brasileiro, para que não prossigamos na conduta viciada de tecer generalizações descuidadas. Ou, o que também é indesejável, estar impedido de realizar qualquer generalização prudente. O fato de encontrarmos na trajetória de Tesourinha vários elementos em comum com o cenário descrito por Mario Filho reafirma a qualidade de sua obra, mas não justifica a ausência de novas pesquisas que permitam uma análise de maior cobertura espacial. Acreditamos que mesmo inciativas de caráter introdutório, como a que agora apresentamos, podem contribuir no sentido de uma compreensão geograficamente mais representativa do futebol brasileiro.

Notas

(1) De 1920 a 1960, existiu nos EUA uma liga nacional de beisebol exclusiva para os negros, The Negro National League. E esta provavelmente foi precedida de diversas ligas locais, também negras, posto que a liga principal, desde sua fundação em 1867, proibe expressamente a participação de jogadores ou clubes negros (BARTH, 1980:179). Na África do Sul, não obstante a grande diversidade tribal no seio da população negra, a South Africa Bantu Football Association foi criada em 1933, embora existam clubes exclusivamente negros no país desde 1898. Tal liga sobreviveu paralelamente à liga "branca" até os anos 60, quando cedeu à crescente pressão da FIFA por uma única liga nacional de caráter multirracial (THABE, 1983: 6-10).

(2)O principal manancial para o debate acerca da inserção do negro brasileiro no futebol se encontra na obra de Mario Filho (1947) O Negro no Futebol Brasileiro. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti Editores , 1a. edição. A segunda edição é de 1964 (Ed. Civilização Brasileira), e a terceira é de 1994, pela editora Firmo.

(3)Repetindo Mazzoni (1950) a literatura majoritariamente consagra esta informação, constestada entretanto por pesquisadores locais( Marco Quevedo, Raul Pons) posto que suas pesquisas revelam a existência de outros clubes no período, ainda que menos estáveis e organizados que a dupla Grêmio-Fussbal. O que porém não invalida o ano de 1909 como marco importante na consolidação do futebol na cidade, que passa a ter condições de gerar uma liga e campeonatos regulares.

(4)Toponímia do passado, referente a locais posteriormente reurbanizados, abrigando hoje o Pronto Socorro e unidades da UFRGS, como o Hospital das Clínicas.

(5)Lamentavelmente, toda a documentação referente a esta liga foi destruída por ocasião da enchente de 1941. As informações presentes foram colhidas em entrevistas: embora problemática, a história oral é o único resgate possível desta memória. E há inclusive divergências quanto ao local de surgimento da liga negra : para Endler (1984:16), ela surge na Colônia Africana.

(6)Informações extraídas de Jornal do Inter (1 a 15/08/1975) e Zero Hora (13/05/1987: suplemento especial:"História do negro no futebol gaúcho". Não imaginamos porém que todos os negros de então desejassem jogar na liga "oficial", sobretudo na divisão inferior.

(7)Não consta na fonte (Carlos Lopes dos Santos, em Zero Hora, 13/05/87) se também os jogadores do clube deveriam ser "mulatos". Por coerência, acreditamos que sim. Na cidade de Pelotas, é possível verificar, através de fotografia publicada na imprensa em 1931, que alguns times da Liga José do Patrocínio (também de negros) exibiam atletas "mulatos", como o SC Universal, enquanto outros clubes, como GS Sul América, o GS Vencedor e o GS Luzitano eram compostos exclusivamente por indivíduos cuja tez negra revelava possivelmente a ausência total de interferência pregressa de exogamia racial.

(8)Zero Hora,13/05/1987, e Jornal do Inter, 1 a 15/08/1975. O próprio compositor Lupicínio, não obstante seu inegável talento musical, contou com uma rede de contatos para abrir "portas" e vencer o isolamento da Ilhota, chegando a alcançar fama na capital do País (façanha rara na época): aos 21 anos adquire, através acesso do pai a um desembagador, emprego de bedel na Faculdade de Direito; casa-se com uma mulher branca numa sociedade onde o índice de exogamia racial é dos mais baixos; torna-se torcedor do Grêmio (clube então racista e elitista), para o qual compõe belíssimo hino. Se Mário Goulart (1984:51) diz que "Lupicínio teve os amigos e os parceiros certos", acreditamos que não se trata de obra do acaso.

(9)Maestri Filho: 1997:234.

(10)O recente trabalho de Eduardo Kersting (1998) rompe alguns aspectos deste silencio.

(11)Registre-se ainda o escasso intercâmbio de informações referentes às realidades regionais. Até onde alcança nosso levantamento bibliográfico, a liga da canela preta aparece pela primeira vez numa publicação fora do Rio de Grande do Sul somente em junho de 1998, no belo artigo de Lopes (1998) sobre as raízes mestiças so futebol brasileiro. Felizmente, trata-se de um periódico de circulação nacional.

(12)Em Salvador (BA), o historiador Aloildo Pires, autor da coluna "memória do futebol" no jornal "A Tarde", nos informou em entrevista que a primeira liga de futebol na Bahia (fundada em 1904) era chamada de "liga branca". Em 1912, conflitos geram nova liga, a "liga democrática", que supostamente permitiria a participação de atletas negros. Segundo Mario Filho (1984:144) o jogador carioca Manteiga abandonou o América (RJ) em 1922 para se estabelecer no futebol baiano. A suposição de Aloildo, se confirmada, aliada à atitude de Manteiga, sugerem um cenário bem menos racista que o da cidade do Rio de Janeiro ("na Bahia estava em casa" enquanto no Rio tinha de andar "quase fugido", diz Mario Filho). Há indícios de ser Salvador a cidade pioneira no Brasil no acesso franco de negros à liga de futebol principal.

Bibliografia

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Lecturas: Educación Física y Deportes
Revista Digital
www.efdeportes.com
Año 4. Nº 14. Buenos Aires, Junio 1999
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Gilmar Mascarenhas de Jesus é Professor Assistente do Departamento de Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) desde 1992, concentrando a docência nos âmbitos da geografia urbana do Brasil, teoria da urbanização, geografia histórica e metodologia da geografia. Doutorando em Geografia Humana pela USP desde 1996, sob orientação da Dra. Odette Seabra, vem elaborando tese que enfoca determinados aspectos da presença do futebol na evolução urbana brasileira. É até o presente o único geógrafo no Brasil a tratar sistematicamente do universo dos esportes e sua espacialidade. É o autor das ementas para as disciplinas eletivas Geografia dos Esportes e Geografia e Turismo para o dep. Geografia da UERJ.

Artigos Publicados em Periódicos Nacionais, sobre a LIGA DA CANELA PRETA:

Futebol e Racismo no Rio de Grande do Sul: a Liga da Canela Preta. in VI Congresso Brasileiro de Historia do Esporte, Lazer e Educação Física. Rio de Janeiro, UGF, 1998, pp 110-116.

O futebol da Canela Preta: o negro e a modernidade em Porto Alegre (RS), Revista de Pós-graduação em História, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), julho de 1999.

quarta-feira, 28 de março de 2007

Figura de um negrinho como símbolo do Inter

(...) "A história do Inter também é de pioneirismo. Quando os negros, em Porto Alegre, na década de 1920, só podiam jogar futebol na Liga da Canela Preta, um campeonato da prefeitura, o Inter começou a buscar os seus primeiros negros – na própria Canela Preta. Assim surgiu Tesourinha, que, durante cinco anos, foi o primeiro gaúcho titular da Seleção Brasileira, antes de ir para o centro do País. E surgiu também, pela primeira vez, a figura de um negrinho como símbolo do Inter na criação do chargista Pompeo, do jornal Folha da Tarde." (...)

FERNANDO ZÁCHIA

79ª Sessão Ordinária, em 12 de Setembro de 2006
www.al.rs.gov.br/plen/SessoesPlenarias

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O Saci, por Ziraldo

Para identificar o Inter como um clube do povo, nas páginas esportivas da antiga Folha Desportiva e do jornal A Hora, surgiu na década de 50 a figura do Negrinho, um personagem cheio de ironia e malandragem.

Com o tempo, o Negrinho acabou virando o Saci, aquele que gosta de armar ciladas contra as pessoas, coisa que no futebol os colorados sempre gostaram de fazer contra os adversários.

www.internacional.com.br

Rolo Compressor

Os jogadores negros preferiam jogar 'profissionalmente' na 'Liga da Canela Preta', que pagava bonificações para os atletas participantes.










O PERFIL DO ROLO


O Rolo Compressor

Ivo Wink, goleiro: foi a grande revelação de 41, no São José, e continuou a brilhar por mais alguns anos no Inter e foi convocado pela Seleção Gaúcha.
Alfeu, zagueiro pela direita: já anos antes andara pelo Internacional, formando a famosa dupla com Natal. Ambos foram parar no futebol paulista, mas Alfeu voltou em 1940. Um dos zagueiros mais perfeitos e velozes do futebol gaúcho em todos os tempos. Veio do futebol fronteiriço do Rio Grande do Sul.

Nena, zagueiro pela esquerda: descoberto pelo treinador Ricardo Diez, naquele mesmo ano de 42, no futebol varzeano de Porto Alegre. Um dos grandes de todos os tempos na posição. Tinha apelido de 'Parada 18' porque passar por ele era dura empreitada. Foi reserva da Seleção Nacional no Mundial de 50, no Rio de Janeiro.

Assis, lateral-direito: jogador de alta técnica e exímio cobrador de tiro-livres. Originário de Uruguaiana, o lateral teve problemas com o excesso de peso e foi um dos primeiros do Rolo a requerer substituto.

Ávila, centromédio: grande jogador da posição. Veio para Porto Alegre em 1941, de Pelotas, doente. Hospitalizou-se no Hospital da Brigada, pois era soldado dessa corporação. Os médicos duvidavam que ainda pudesse jogar futebol, de tão abatido pela sífilis que estava. Mas, homem de ferro, se recuperou logo para tornar-se um dos astros máximos da equipe.

Abigail, lateral-esquerdo: comprado do Força e Luz, no início de 42, era um dos jogadores mais regulares do time. Foi assim durante toda a sua carreira.

TESOURINHA, ponta-direita: jogador 'prata da casa' saído dos juvenis em 1939, jogou durante longo tempo na Seleção Nacional. Tinha um drible desconcertante, que encantava o espectador. Havia torcedores que íam ao campo só pra ver Tesourinha jogar.

Russinho, capitão do time, moço rico de bacharel. Grande dinamismo e técnica razoável. Jogava futebol mais por amor ao esporte do que por necessidade de dinheiro, mas foi fundamental nas conquistas do time.

Vilalba, argentino vindo de São Borja para um teste. Aprovado, mostrou ser um grande centroavante. Saindo do Internacional, foi jogar no Palmeiras e teve boa atuação. Voltou ao Inter e encerrou sua carreira com a camisa vermelha.

Rui, veio de Alegrete e era um jogador com grande liderança na equipe, pelo ardor com que disputava as partidas. Excelente em qualquer lado do meio-campo. Com Russinho no time, Rui atuava na esquerda.

Carlitos, zagueiro de origem, veio em 1948 do arrabalde da Tristeza. Devido a sua rapidez, acabou indo para o ataque e, depois, firmou-se na ponta esquerda. Tornou-se o maior goleador gaúcho de todos os tempo. Jogou 15 anos ininterruptos no Internacional e marcou 485 gols ao longo da sua carreira.

Surge o Rolo Compressor

Chega à presidência do Internacional, em 1940, um homem austero. Seu nome é Hoche de Almeida Barros, e logo, pela rigidez e ordem com que põe em tudo, ganha um apelido: 'Rocha'. Com tudo em ordem no setor administrativo, no futebol, tudo também começa a ir bem em campo. Há indícios de uma nova era no clube.

A luta entre os dois times da cidade - Inter e Grêmio - começava a se equivaler. O Inter vence um clássico por 6 a 1, o Grêmio vinga-se com um 4 a 2 em seguida. Mas pelo lado colorado está se formando uma grande equipe, que assim começou: Marcelo, Álvaro e Risada; Alfeu, Magno e Assis; Tesourinha, Russinho, Carlitos, Rui e Castilhos.

A guerra do toma lá da cá continuava em 1941. Nos dois jogos pelo campeonato, cada um levou uma: no primeiro 3 a 0 para o Internacional, no segundo, 2 a 1 para o Grêmio. Mas um forte ataque do Inter se formava: Tesourinha, Russinho, Vilalba, Rui e Carlitos. Já estava quase chegando a equipe dos sonhos da torcida colorada.

Era preciso, então, criar uma defesa à altura do ataque, que já se mostrava grande pelo conjunto e pela habilidade de seus componentes. Era o que a direção estava providenciando, para chegar no ano seguinte, em 1942, à equipe perfeita: O Rolo Compressor. Mas o que era o "Rolo Compressor"?

Era um time extremamente ofensivo, que durou de 1940 até 1948, conquistando oito estaduais em nove anos. O motivo de tamanha superioridade datava de 1926, ano que o Inter passou a utilizar jogadores negros em seu grupo, prática ainda não adotada pelo rival Grêmio até 1952. Isto acabou fortalecendo a equipe, que não tinha restrições e acabava sempre com os melhores jogadores, além de criar o carinhoso apelido de 'Clube do Povo'. Esta equipe contou com vários dos maiores craques já surgidos no Internacional.

Porém, é importante ressaltar um fato histórico relevante: desde a sua fundação, o Colorado permitia integrantes negros ou de qualquer outra raça ou nacionalidade. Inclusive dois negros assinaram a ata de fundação do clube no histórico dia 4 de abril de 1909. Porém, como apenas abnegados amadores atuavam no clube até 1926, os atletas eram, em sua maioria, de classe alta. Os jogadores negros preferiam jogar 'profissionalmente' na 'Liga da Canela Preta', que pagava bonificações para os atletas participantes. Somente quando os clubes passaram a se profissionalizar e pagar salários, ainda que baixos, os atletas negros começaram a aceitar convites para jogar no Internacional, um clube que, desde sua fundação, jamais aceitou atos discriminatórios de qualquer espécie.

Talvez a formação que todos colorados sonham, obedecendo ao sistema clássico de dois zagueiros, uma linha média de três e um ataque com cinco - dois pontas, dois meias e um centroavante - tenha sido o Rolo Compressor do goleiro Ivo Winck, os dois zagueiros Alfeu e Nena, os três médios Assis, Ávila e Abigail e o ataque de Tesourinha, Russinho, Vilalba, Rui e Carlitos - o time de 42. O núcleo do Rolo era mesmo Carlitos, Tesourinha, Alfeu e Nena. Começou em 39 e prolongou-se até 50. Só perdeu o campeonato de 46.

O hexacampeonato

Em 18 de novembro de 1945, o Rolo do Inter ganhou o inédito título de hexacampeão gaúcho, na Timbaúva, estádio do Força e Luz, jogando contra o Pelotas. Os grandes clubes do Rio de Janeiro e São Paulo apareciam com propostas milionárias, mas os jogadores recusavam-se em sair de Porto Alegre. Era mesmo uma grande família, unidos para sempre e adorados pelos torcedores e imprensa, jamais sendo esquecidos. Em Gre-Nais, os números eram avassaladores: 19 vitórias, 5 empates e apenas 4 derrotas em 29 jogos. O time mais ofensivo de todos os tempos já surgido no Rio Grande do Sul durou praticamente toda a década e teve um sucessor, o "Rolinho", comandado pelo inesquecível Tetê nos anos 50.

Vicente Rao

Quem criou a expressão "Rolo" foi Vicente Rao. Jogador na década de 20, acabou sendo inscrito na história do clube por ser um insuperável animador de torcida. Segundo o atacante Carlitos, aquele não era colorado, era 'o Colorado', era o Internacional em pessoa. Primeiro Rei Momo de Porto Alegre, Rao gostava de futebol e da juventude, tanto que foi ele quem criou as primeiras escolhinhas de futebol do Inter. Ele fazia desenhos dos jogadores do Inter e do time todo para depois levar pessoalmente aos jornais. Figura lendária do clube.

Foi aí que ele concebeu o antológico time da década de 40 na forma de um rolo compressor, amassando todos os adversários. Na mão de Rao, nada deixava de ser declaradamente popular. É deste tempo também o surgimento das grandes bandeiras e entradas do time em campo abaixo de foguetes, serpentinas, uma barulhada de sinos e sirenes. Por iniciativa de Rao, também surge nesta mesma década prodigiosa a primeira torcida organizada do Internacional, que também era a primeira que se tem notícia no Brasil.

terça-feira, 27 de março de 2007

Preconceito no futebol

do GUIA DE CURIOSIDADES

* Os times não aceitavam jogadores negros no início da história do futebol no Brasil. Os atletas driblavam a proibição alisando o cabelo e cobrindo o rosto com pó-de-arroz para se passarem por brancos. Um dos exemplos mais famosos desta prática é o jogador do Fluminense Carlos Alberto. Durante uma partida de seu clube contra o América, pelo Campeonato Carioca de 1914, a maquiagem que usava começou a escorrer, revelando sua verdadeira cor. A torcida adversária não perdoou e lhe atribuiu o apelido de Pó-de-Arroz.


* No final da década de 1910, foi organizada no Rio Grande do Sul a Liga da Canela Preta. O órgão promovia disputas entre times formados apenas por negros. Como resposta, a liga “branca” criou em 1922 uma segunda divisão, em que permitia a participação de jogadores mulatos em campeonatos.


* O primeiro grande time a admitir atletas de cor em seu elenco foi o Bangu Atlético Clube. Em 1905, 1 anos após sua fundação, ele contratou o jogador Francisco Carregal. O Grêmio, por exemplo, demoraria 47 anos para comprar o passe do jogador Tesourinha, primeiro atleta negro do clube. Já o primeiro time a vencer uma competição com uma maioria de negros e mestiços foi o Vasco da Gama. Trata-se da conquista do Campeonato Carioca de 1923.


* No início de sua carreira no clube espanhol Barcelona, o camaronês Eto’o era alvejado por bananas toda vez que pegava na bola.


* Em 2004, os jogadores Juan e Roque Júnior foram ofendidos pela torcida do Real Madrid em uma partida contra o Real Madrid. Eles defendiam o clube alemão Bayer Leverkussen na Copa dos Campeões. Toda a vez que pegavam na bola, os entusiastas do time adversário imitavam macacos. O Real Madrid acabou sendo obrigado a pagar 10 mil euros de multa pela agressão.


* O mesmo ocorreu com o jogador Roberto Carlos, também em 2004. Toda vez que ele e os outros jogadores negros do Real Madrid pegavam na bola em um jogo contra o Atlético de Madrid. O clube dos ofensores foi multado em 600 euros.


* A Nike lançou em fevereiro de 2005 uma campanha contra o preconceito no futebol. Lançada durante uma partida do Paris Saint-Germain contra o Lens, contou com a participação de jogadores como Roberto Carlos, Ronaldinho Gaúcho e Adriano. Na mesma ocasião, torcedores ergueram bandeiras com o símbolo nazista e uma faixa dizendo “Adiante, brancos”.


* Também em fevereiro, o árbitro Alfonso Perez Burrull teve que interromper um jogo entre o Málaga e o Espanyol. Sempre que o goleiro do Espanyol Carlos Kameni pegava na bola, a torcida imitava macacos.


* O zagueiro Fabão acusou o atacante argentino Frontini de tê-lo chamado de Macaco durante uma partida contra seu time, o São Paulo, e o Marília.


* Ronaldinho perdeu a cabeça e arremesou uma garrafa de água contra três homens que o xingaram de “Negro gordo”. O incidente ocorreu numa partida do Real Madrid, time do craque, contra o Málaga em fevereiro de 2005. No dia seguinte, ele se redimiu pedindo desculpas.


* O zagueiro Wellington Paulo, do América-MG, levou uma suspensão de 30 dias por xingar o colega de time André Luiz de macaco.


* Em abril de 2005, o zagueiro argentino Leandro Desábato xingou o atacante Grafite de “negrito de mierda”. Os times de ambos – Quilmes e São Paulo, respectivamente – jogavam uma partida pela Taça Libertadores da América. A televisão registrou o momento e, pouco depois do término do jogo, o agressor foi preso por crime de racismo. Ele pagou uma fiança de 10 mil reais e acabou extraditado do Brasil.


* Poucos dias depois, em um jogo do Quilmes contra o River Plate (Campeonato Argentino), torcedores racistas ergueram faixas reinterando os xingamentos a Grafite. Uma o chamava de “Macaco” e outra de “Branca de Neve”.


* O atacante Marco Antônio, do Campinense, acusou o árbitro Genival Batista Júnior de tê-lo chamado de "negro safado" e "macaco" durante um jogo valendo pelo campeonato Paraibano, em maio de 2005. Genival se justificou dizendo ter levado uma cabeçada do jogador, mas os responsáveis pelo caso não viram nada no vídeo da partida.


* O diretor de futebol do Palmeiras Salvador Hugo Palaia criticou a oposição de Mustafá Contursi, ex-presidente do clube, à contratação do técnico Leão afirmando que o conselho deliberativo verde-e-branco tinha a “turma do quibe”. Mustafá considerou as declarações do colega “deploráveis e preconceituosas” e jurou tomar providências a respeito. O caso ocorreu em 19 de julho de 2005.


* Em 12 de setembro de 2005, o goleiro Felipe entrou com uma queixa por racismo contra o então presidente do Vitória, Paulo Carneiro, porque ele havia lhe xingado de “negro safado”, “preto vagabundo” e “vendido”. O bate-boca ocorreu após o empate contra a Portuguesa, em um jogo do Campeonato Brasileiro. O resultado levou ao rebaixamento do clube para a segunda divisão. Por causa do incidente, Carneiro foi afastado da diretoria.

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segunda-feira, 26 de março de 2007

Racismo Multicor

Melhor Reportagem, no 19° Set Universitário da PUC, com a reportagem “Racismo Multicor

Autores divergem sobre o surgimento do Internacional como resposta a um suposto racismo gremista. O jornalista Cláudio Dienstmann, estudioso do futebol mundial, possui 300 fotos do primeiro campeonato gaúcho vencido pelo Inter, em 1927.

Analisando as imagens, um detalhe chama a atenção do pesquisador: 18 anos após sua fundação, não havia negros no time. Na ata de fundação do Inter, o texto afirmaria que o clube seria aberto a todos, independente de raça, religião, classe política, econômica e social. Porém, a ata desapareceu. Dienstmann chegou a procurar familiares dos fundadores e não obteve respostas desse documento. “Nunca se soube se foi realmente extraviado ou se deram um sumiço no livro para justificar a não contratação de negros e pobres pelo clube”, supõe.

O primeiro negro a vestir a camisa colorada foi Dirceu Alves, em 1928. Ele era atacante da Liga da Canela Preta, coordenada pela Prefeitura de Porto Alegre. Segundo Dienstmann, com a contratação de Alves, metade do quadro social do Inter foi embora. O argumento era que Alves estava recebendo da Prefeitura para jogar, mas o jornalista acredita que o motivo foi o fato de ele ser negro. “Ele era humilde e necessitava realmente de ajuda. O que ele recebeu, na verdade, foi uma fatiota”, salienta.

Em seus dois livros Até a pé nós iremos e Meu coração vermelho, que contam a historia da dupla Gre-Nal, Ruy Carlos Ostermann afirma que o Grêmio seria um time de burgueses e brancos que não admitia jogadores negros e pobres. O Inter teria nascido para dar aos discriminados a oportunidade de jogar em um clube de futebol. Ostermann diz que o Grêmio de Foot-Ball Porto-Alegrense, fundado em 15 de setembro de 1903, por comerciantes filhos de imigrantes alemães e açorianos, submetia os candidatos a sócios a uma investigação, uma seleção elitista e racista.

Os negros e os pobres teriam esperado seis anos pela inclusão ocorrida com a fundação do Sport Club Internacional, em 4 de abril de 1909. “O Inter surgiu como um contraponto dos excluídos”, diz o sociólogo Antônio Mesquita Galvão, professor da Unisinos, com mais de 90 livros publicados. O Inter foi fundado pelos irmãos Poppe, paulistas que vieram morar na capital gaúcha. A maioria dos integrantes era de jovens universitários, filhos de fazendeiros, que iam morar na capital para estudar. O time chegou a ser apelidado de “Clube dos Acadêmicos do Internacional”.

Dienstmann considera que, na época, deixar o interior e ir para a capital cursar o nível superior não era privilégio de qualquer um. Para ele, o clube aristocrático não era o Grêmio, mas o Inter. O futebol surgiu como esporte de elite, pois os fardamentos e acessórios utilizados pelos jogadores eram importados. Os negros, recém-libertos, não possuíam bens e propriedades, não tinham estudos e recebiam um salário pequeno. Que condições teriam de adquirir estes adereços e formar um time de futebol? “O problema maior era o econômico e não o racial”, afirma Dienstmann.

O pesquisador diz que o racismo não era uma questão exclusivamente ligada ao Grêmio e ao Inter, mas do futebol em si. Mais do que isso, é uma questão cultural, social e mundial. Vale lembrar que a lei Áurea completava apenas 15 anos quando o Grêmio foi fundado. Ora, depois de longos anos de escravidão não seria de repente que os brancos admitiriam a igualdade das raças, se até hoje, 118 anos após a abolição, o preconceito e a discriminação ainda existem fortemente. Se por racismo ou questões econômicas, o fato é que o Grêmio não admitiu sócios ou jogadores negros até 1952, véspera do seu cinqüentenário.

Foi Saturnino Vanzelotti, então presidente, que decidiu quebrar a traição e contratou Tesourinha, ex-jogador do Inter, mesmo contra um grande movimento de oposição dentro do clube. Uma das manifestações foi dos jornalistas Adil Borges Fortes e Amilton Chaves, que criaram o grupo “Gremistas Vigilantes”. Argumentaram que Vanzelotti não teria consultado o Conselho Deliberativo do clube para efetuar a contratação. “O Tesourinha era uma bandeira como negro e colorado, e era preciso acabar com o fato do racismo no Grêmio com uma grande estrela do futebol”, relata José Luiz Barreto, torcedor colorado e negro. “O negro só podia evoluir através do esporte, vinha de uma camada mais inferior, das periferias, das vilas, não tinha muita credencial para fazer um curso superior. Uma série de fatos sociais o impedia de evoluir”, lembra.

O aposentado Carlos Alberto Loretto, 70 anos, recorda que tinha um primo que jogava no Grêmio e, um dia, levou o pai para assistir um jogo no Estádio da Baixada. “Como o pai era negro, não o deixaram entrar. Ele não deixou de ser gremista, mas nunca mais foi a um jogo”, ressaltou. Loretto diz que já foi chamado de pobre por ser negro e colorado, mas garante que isso nunca o incomodou.

A questão racial também foi enfrentada com bom humor pelo ex-jogador Vicente Rao, criador da primeira torcida organizada do Inter, a Camisa 12, que era vibrante, cheia de bandeiras, foguetes, serpentinas e sirenes. Um verdadeiro carnaval feito pelo povão. A torcida gremista dizia que aquilo era “coisa de crioulo”. Mas a moda pegou tanto que em pouco tempo os tricolores começaram a utilizar os mesmo acessórios. Rao não perdeu a oportunidade, e em um Gre-Nal na Timbaúva, esperou os gremistas começarem a festa e ergueu uma faixa com a frase: “Imitando crioulo, hein!”. Foi Rao também quem criou a expressão “Rolo Compressor”, na década de 1940, quando o Internacional atravessava sua melhor fase.

Contradições também marcam a história dos dois riais, Ironicamente, o time gremista teve seu hino composto por um negro, Lupicínio Rodrigues, em 1953. Já o Inter, conforme Dienstmann, protagonizou pelo menos dois episódios de racismo. O primeiro em 1935, na decisão do campeonato de Porto Alegre. O time precisava de um empate. Aos 42 minutos do segundo tempo o jogo estava em 0 a 0. Nos três últimos minutos o Grêmio fez dois gols e tornou-se campeão. O centroavante Cardeal, único negro do time, foi culpado ela derrota. “Que culpa pode ter um centroavante de um time de tomar dois gols nos últimos três minutos? Não o mandaram embora porque era culpado, mas porque era negro.

O certo era tirar o goleiro”, salienta o jornalista. Outro exemplo ocorreu em 1980, no jogo contra o Esportivo, em Bento Gonçalves. O árbitro Luiz Louruz, Nero, teria cometido um engano prejudicando o Inter. Os jogadores colorados, inconformados, o chamaram publicamente de “macaco”. O fato foi notícia em todos os jornais e o Inter, processado judicialmente. “A discriminação racial sempre existiu, decresceu um pouco em virtude de as pessoas naturalmente crescerem e evoluírem em seus pontos de vista. Hoje acontece ainda, mas em menor escala.

No interior do Estado onde há muitas etnias o problema racial é mais acentuado”. A socióloga Carmem Galvão acredita que o Gre-Nal, antes de ser uma disputa sócio-desportiva, sempre foi uma “luta de classes”. De qualquer forma é a rivalidade e a paixão azul e vermelha que consegue movimentar um estado inteiro e reunir pobres, ricos, negros e brancos no maior espetáculo do futebol gaúcho: o clássico Gre-Nal.

LIGA DA CANELA PRETA

A Liga da Canela Preta era composta de vários times divididos hierarquicamente. Havia o time dos lixeiros, dos entregadores de gás, dos garçons, dos coletores de impostos, de todos os departamentos da prefeitura. Os jogadores não eram assalariados, recebiam bonificações e melhores colocações no trabalho, uma espécie de promoção. Ostermann afirma em seus livros que a Liga da Canela Preta era composta somente de negros e excluídos. Dienstmann contraria essa versão. Segundo ele, nem todos os jogadores eram negros, mas sim de classe econômica e social inferior. Eram excluídos por serem menos favorecidos, não por serem negros.

Carla Wendt
Jaqueline Vargas
Tatiana Vasco
______________________________________________________

Reportagem feita para a Revista Primeira Impressão da Agência Experimental de Comunicação (AgexCom), da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos. São Leopoldo/RS. Publicada na 25ª edição em julho de 2006.

tatianavasco.blogspot.com

domingo, 25 de março de 2007

Gremista ou Colorado? Quem foi o primeiro racista?

UNITED COLORS OF ... 'NO SEGUNDA'?

Com as arrebatadoras participações de uma figura que só escreve em maiúsculas, era óbvio que eu não poderia ficar calado, certo? Ainda mais tendo sido citado por crime de empáfia, arrogância e sei-lá-mais-o-quê. Sou de origem hispânica, logo, empáfia e arrogância nasceram e estarão para sempre comigo. Bueno, aparenta que o cara já se acalmou um pouquinho, embora esta minha participação possa atiçar todos seus demônios particulares.

Gremista ou Colorado? Quem foi o primeiro racista?

Não sei.

SÓ SEI QUE:

CLUBES DE FUTEBOL do início do século foram fundados (adivinha!!!) logo após a abolição da escravidão, oficialmente considerada como 13 de maio de 1888.
Diz-se que desde 1884 não havia mais pessoa alguma escrava na capital do Rio Grande. Aparentemente, Porto Alegre foi uma das cidades onde mais se fez pelo fim da escravidão.

POIS BEM, há de se considerar que mentalidades vão mudando de acordo com o tempo, com os costumes, com o que vem do estrangeiro, etc. Tudo isto pode ser chamado de 'caldeirão' donde emerge a suculenta cultura de uma sociedade.

ENTÃO, pensem como pessoas, brancas ou negras, recém saídas do antigo regime de trabalho. Ser branco era, muito mais do que ainda é hoje, ser parte da sociedade. Em resumo, poderia-se dizer que, mesmo após o fim do regime, ser branco era sinal de ter tempo livre para o lazer. O esporte, e desde 1903 em Porto Alegre, o futebol, era o lazer preferido de quem tinha tempo livre para desfrutar.

CONSEQUENTEMENTE, durante os primeiros anos, FUTEBOL ERA COISA DE BRANCO. Porque o negro, mesmo fora da senzala, continuava se matando pra sobreviver com alguma dignidade, através de subemprego e sem leis trabalhistas. Seja através dos lendários irmãos Poppe, seja por outro lendário, Cândido Dias da Silva, a introdução do futebol na sociedade se deu através dos brancos cuja última preocupação era de batalhar atrás de dinheiro.

A PARTIR DOS ANOS 10, quando os anarquistas italianos eram os trabalhadores das fábricas por excelência, as greves gerais pressionaram o governo a garantir a minima proteção trabalhista possível para a época. Em 1916, São Paulo explodiu como uma panela de pressão de vidas e sangue foi o preço que o governo e o mercado cobraram para que os operários tivessem mais tempo livre. Para a sua família e também para o futebol, por exemplo.

OS TERRENOS BALDIOS começam a ver proliferarem moleques com bolas de pano, de meia e até alguma bola oficial que algum zagueiro grosso tenha chutado pra fora da Baixada, da Chácara ou da Várzea. Não demora muito para que os brancos dos clubes clássicos de futebol vejam estes talentos brutos ao passar de bonde pela Estrada da Glória, a caminho do treino de sábado na Cascata.

ALGUNS DESTES são escolhidos para participar dos jogos oficiais. Pra camuflar um pouco a cor, diz-se que o cara morou no norte do país e acabou 'pegando uma corzinha'. Ou então o exemplo tão famoso do 'pó-de-arroz', caracterizado no Fluminense mas prática comum em vários dos 'clubes de brancos'.

A LIGA DA CANELA PRETA foi o bastião do futebol negro de Porto Alegre no início do século XX. Os dois maiores e mais tradicionais redutos da afro-descendência da época eram a Ilhota (onde hoje está o Copacabana, o teatro Renascença, a Zero Hora e o ginásio Tesourinha, filho do lugar) e a Colônia Africana (no bairro Rio Branco, os nomes das ruas não deixam mentir - Liberdade, Castro Alves). Clubes amadores pipocavam como sessões de matinê, Rio-Grandense, 13 de Maio, Vasco da Gama, Rio Branco e outros tantos. Estes clubes não eram habilitados pela FRGF a paticipar de forma regular dos campeonatos citadinos. Assim, por iniciativa própria, fundaram a Liga, formada basicamente por clubes fundados por negros, mestiços e brancos pobres.

NOS ANOS 30, com o início do profissionalismo, a Liga da Canela Preta se esvazia. Os melhores jogadores encontram onde jogar, principalmente Cruzeiro, Inter e Nacional. Os clubes da liga desaparecem e, sem os registros da época, é praticamente impossível resgatar este passado histórico dos primórdios do futebol porto-alegrense. Não se sabe sequer os campeões da Liga ao certo.

A NOTA A SER destacada é que Francisco Rodrigues, à época presidente do Rio-Grandense, foi bater à porta do clube dos irmãos Poppe. Aquele mesmo cujos simpatizantes o proclamam de 'clube do povo'. Sim, este mesmo que está na tua cabeça. Vou dar uma pista, é de Porto Alegre. Pois bem, 'seu' Rodrigues achou que seria bem acolhido pelo auto-proclamado 'clube do povo'.

E NÃO É QUE BATERAM a porta na cara do 'véio' Rodrigues. O pessoal do 'clube do povo' fechou a porta pro negro Rodrigues e os seus. Como não foram aceitos, passaram a ter uma certa simpatia por outro clube de Porto Alegre, o principal rival do 'clube do povo'. Sim, aquele 'da burguesia', o 'dos racistas'. A Ilhota foi marcada por este conflito, tendo sido a primeira área pobre de Porto Alegre a ter predominância de torcedores 'racistas'. Engraçado que estes 'racistas' não se importavam que eles mesmos fossem... negros (!?!).

VINTE ANOS DEPOIS, o filho do presidente do Rio-Grandense da Ilhota, o filho do 'seu' Rodrigues - que assistiu seu pai ser humilhado por desconhecidos numa casa em que supostamente seriam bem recebidos - compôs o hino mais célebre de todos os clubes de futebol do país.

Enfim, até a pé eu irei - afinal, a duas quadras de casa não tem como ir de outro jeito mesmo.

Saúdos, Vitor VEC


P.S.: Não dormi hoje e atravessei a madrugada só pra fazer este texto, mas acho que era necessário e que valeria a pena o desgaste.
E pra vocês, valeu a pena ler?


(ok, pessoal, ultrapassamos os 150 comentários, e claramente perdemos totalmente o controle. Vou dar um "pause" aqui, para retornarmos depois. Obrigado pela assiduidade.
-Antena
)

COMENTÁRIO:

Impedimento também é cultura...

Muito bom o texto. Prá mostras que neste pais ninguám pode se fazer de santo quanto ao racismo. Gostei também de assumir a empáfia e arrogância. Muiro pior é o cara ser arrogante e "se fazer" de certinho, como certos torcedores porto-alegrenses que não vou dizer de qual clube....rs.... O futebol é a sublimação da gerra. Logo, não tem problema de ser arrogante, presunçoso, etc.. etc.. Levar isso a sério é que não dá, como o "caixa alta". Porém (sempre tem um porém) como gremista eu acho que tá na hora de acabar com este negócio de "chora macaco imundo" e coisas do tipo. Durante o jogo com o Defensor, ouvir o coro da torcida, não me levem a mal, me deixou com vergonha. É no mínimo um atestado de pequenês....

Publicado por: JC em maio 18, 2007 9:44 AM

maio 18, 2007

www.insanus.org

Futebol de Campo em Porto Alegre-RS

No dia 21 de outubro de 1915, foi fundado o Sport Club Ruy Barbosa. Criou-se a LIGA DA CANELA PRETA, formada exclusivamente por jogadores negros, que não eram aceitos nos grandes clubes de Porto Alegre.

por Vinicius Sant’Ana Machado e Carolina Butzke Buchmann


Origens O futebol porto-alegrense acompanha o desenvolvimento natural do nobre esporte bretão em toda a extensão do Rio Grande do Sul. A forte base germânica advinda dos colonizadores alemães, praticantes de diversos esportes, alicerçou a modalidade do futebol no Estado.

Os colonos que se estabeleceram na região sul fundaram os primeiros clubes esportivos e sociais, adotando a prática do futebol e difundindo o esporte através dos pampas. A propagação futebolística se estendeu até a capital gaúcha, onde os alemães são considerados precursores da modalidade.

Houve, também, intensa influência platina, quando do estreitamento de laços entre brasileiros e uruguaios. Este influxo platino é percebido ainda nos dias de hoje, incorporado à marcação forte, a uma vontade ímpar de ganhar e ao estilo que prima pelo conjunto em detrimento da técnica individual dos times porto-alegrenses.

Por influência dessas escolas futebolísticas, o futebol aqui praticado correntemente é tachado de violento, por sua fibra e virilidade.

1903

O marco inicial da história do futebol porto-alegrense se deu quando, a 7 de setembro de 1903, o Sport Club Rio Grande visitou a capital dos pampas (Porto Alegre) em excursão. Por influência de tal acontecimento, oito dias depois ocorreu o surgimento dos dois primeiros clubes de futebol porto-alegrenses. Em 15 de setembro, fundou-se o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e o Fuss-Ball Club de Porto Alegre, ambos de origem alemã. O Fuss-Ball encerraria suas atividades na década de 1940.

1904

Disputou-se a primeira partida de futebol entre clubes em Porto Alegre, no embate entre o Grêmio e o Fuss-Ball, em 6 de março. Foi fundado um torneio citadino de nome Wanderpreis (do alemão, “troféu móvel”), patrocinado pelo Banco Alemão. Disputado em jogos que ocorriam a cada seis meses, se sagrava campeão aquele que vencesse uma série de três jogos consecutivos.

1907

O torneio Wanderpreis passa a ser disputado através de partidas realizadas anualmente.

1909

Em 31 de maio, o ex-jogador do Grêmio, Georg Black fundou o Fuss-Ball Mannschaft Frisch Auf, time de futebol da Sociedade Ginástica de Porto Alegre - SOGIPA. Dias depois, em 4 de abril, os irmãos paulistas Henrique, José e Luís Poppe fundaram o Sport Club Internacional. Em 18 de julho deste mesmo ano aconteceria o primeiro embate da mais célebre rivalidade entre equipes gaúchas: o GRE-NAL. Vitória do Grêmio sobre o Internacional por 10 a 0. O. Militar Foot-Ball Club, formado por alunos da Escola de Guerra começou a figurar entre as equipes praticantes do futebol; poucos anos depois, deixou de existir.

1912

Ano em que foi fundado o Sport Club Americano, no dia 4 de julho, mas deixaria de existir na década de 1940.

1913

Um grupo de jovens estudantes do Colégio São José, pertencentes à Sociedade Juventude dos Moços Católicos, fundou o Esporte Clube São José em 24 de maio. Em 14 de julho do mesmo ano foi fundado o Esporte Clube Cruzeiro.

1915

No primeiro dia do ano deu-se a fundação do Concórdia Foot-Ball Club. No dia 21 de outubro, foi fundado o Sport Club Ruy Barbosa. Criou-se a LIGA DA CANELA PRETA, formada exclusivamente por jogadores negros, que não eram aceitos nos grandes clubes de Porto Alegre.

1917

Fundação do Ypiranga Foot-Ball Club, no dia 15 de março. O Frisch Auf deixa de existir.

1918

A Federação Rio Grandense de Futebol - FRGF foi fundada no dia 18 de maio, numa casa situada na rua General Câmara, no centro da capital. Resultante de divergências no desporto da capital, a entidade assumia a incumbência de controlar e dirigir o futebol no Estado.

1922

No dia 8 de setembro, funcionários da Companhia de Força e Luz da cidade fundaram o Grêmio Esportivo Força e Luz. Na década de 40, o clube receberia outras duas denominações: Rio Branco e Esporte Clube Corinthians. Futebol de Campo em Porto Alegre-RS

1927

Foi fundado, no dia 29 de agosto, o Club Athletico Bancário.

1928

Americano, Cruzeiro e Internacional foram os pioneiros na quebra da segregação racial, ao incorporarem jogadores negros ao seu plantel. O futebol porto-alegrense passa a perder um pouco de seu caráter elitista.

1929

A Associação Metropolitana Gaúcha de Esportes Athleticos - AMGEA passa a promover o certame da Cidade de Porto Alegre.

1931

Aos vinte e sete dias do mês de julho, é fundado o Grêmio Esportivo Renner, nascido em meio ao modesto círculo esportivo de operários pertencentes à firma que emprestou ao clube o nome.

1937

Criação do Nacional Atlético Clube, formado e administrado pela classe ferroviária, no dia 16 de abril. A partir deste ano, foram realizados os primeiros campeonatos profissionais da cidade.

1941

A Federação Rio Grandense de Futebol assume a organização e realização do campeonato citadino de Porto Alegre.

1952

Em fevereiro deste ano, por um ato do presidente do clube Saturnino Vanzelotti, o Grêmio acabou com um preconceito que já durava quarenta e nove anos: o de não aceitar jogadores negros em sua equipe. Osmar Fortes Barcellos, o “Tesourinha”, quebrou esta tradição ao ser contratado.

1954

Inauguração do estádio do Grêmio, o Olímpico (que mais tarde passaria a ser chamado de Olímpico Monumental), na época o maior estádio privado do país.

1956

A Seleção Brasileira “Gaúcha”, que disputou o 2ºCampeonato Pan-Americano de Futebol na Cidade do México, contou com dezenove atletas que atuavam em clubes de Porto
Alegre: oito jogadores do Internacional, oito do Grêmio, dois do Renner e um do Nacional. O título ficou de posse do selecionado gaúcho, ao empatar com a Seleção Argentina na final.

1959

Ano das falências para o futebol porto-alegrense: Força e Luz, Renner e Nacional encerraram suas atividade esportivas.

1969

Inauguração do estádio do Internacional, o José Pinheiro Borda (popularmente conhecido como “Gigante da Beira-Rio”), no domingo de 6 de abril. Em 12 de outubro surgiu a primeira torcida organizada de Porto Alegre, a Torcida Organizada Camisa 12, que tinha o objetivo de representar o “décimo segundo jogador” junto ao Sport Club Internacional.

1975

O Internacional vence o campeonato brasileiro pela primeira vez em sua história, ao derrotar, em 14 de dezembro, o Cruzeiro-MG por 1 a 0, gol marcado pelo chileno Elias Ricardo Figueroa Brander.

1976

O Internacional obtém seu bicampeonato brasileiro, vencendo o Corinthians-SP por 2 a 0.

1979

Ano do tricampeonato do Internacional, alcançado de forma invicta, numa vitória sobre 2 a 1 diante do Vasco da Gama-RJ. Tal feito jamais foi igualado.

1981

O Campeonato Brasileiro deste ano foi conquistado pelo Grêmio, numa vitória sobre o São Paulo, com um único gol de Baltazar.

1983

O Grêmio se sagra campeão da Taça Libertadores da América, com uma vitória de 2 a 1 sobre o Peñarol do Uruguai, em 28 de julho. No mesmo ano, o Grêmio vence o Mundial Interclubes ao derrotar, por 2 a 1, o Hamburgo SV da Alemanha, no Estádio Nacional de Tóquio, Japão.

1984

A Confederação Brasileira de Futebol - CBF convocou o time inteiro do Internacional para representar a Seleção Brasileira na disputa dos Jogos Olímpicos de Los Angeles. O selecionado, que ficou conhecido como “Sele/Inter”, conquistou a medalha de
prata, ao ser derrotado por 2 a 0 na final contra a França.

1989

No primeiro ano da realização da Copa do Brasil, o Grêmio se tornou campeão da competição: 2 a 1 contra o Sport Recife-PE, no Estádio Olímpico.

1992

O Internacional conquista o título da Copa do Brasil, sobre o Fluminense-RJ, por 1 a 0. O gol foi de pênalti, convertido pelo zagueiro Célio Silva.

1994

Neste ano, o Grêmio obteve o bicampeonato da Copa do Brasil. A equipe comandada por Luiz Felipe Scolari venceu o Ceará por 1 a 0, gol de Nildo.

1995

O Grêmio venceu sua segunda Taça Libertadores da América, batendo o Atlético Nacional de Medellín, e, meses mais tarde, conquistou a Recopa Sul-Americana no Japão.

1996

O G. E. Renner ressurge como Renner São José, parceria com duração até o ano 2000. O Grêmio conquista seu bicampeonato brasileiro, ao derrotar a Portuguesa de Desportos-SP, por 2 a 0.

1997

O Grêmio foi até o Estádio do Maracanã-RJ para conquistar o tricampeonato da Copa do Brasil ao empatar com o Flamengo-RJ em 2 a 2.

2001

Tetracampeonato da Copa do Brasil, conquistado pelo Grêmio sobre a equipe do Corinthians-SP.

2003

Fundou-se o Lami Futebol Clube, mais recente equipe portoalegrense, em 10 de junho.

2005

Neste ano, os números da clássica competição Grêmio – Internacional (Gre-Nal) totalizavam 116 vitórias / 487 gols para o Grêmio e 136 vitórias / 522 gols para o Internacional, com 111 empates, considerando-se um total de 363 jogos. Situação atual Porto Alegre, no século passado, foi o berço de diversas equipes de futebol, muitas delas hoje já extintas. Mas a paixão que o gaúcho, sobretudo o porto-alegrense, sente pelo futebol perdura e é muito bem representada pelos atuais grandes da capital do RS: Grêmio e Internacional.

Estes ícones do futebol nacional mantêm as tradições gaúchas desta modalidade: a raça, a força e a coletividade. O Grêmio é o clube da capital que conta com a maior torcida, 4 milhões de torcedores por todo o território brasileiro. O Internacional ocupa a segunda colocação, totalizando cerca de 3 milhões de torcedores no Brasil inteiro. Atualmente, o São José é a terceira maior força da capital, sendo estimado até por torcedores de outras equipes.

Fontes

Acervo do jornal Zero Hora (2005). Porto Alegre.

Acervo do Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa (2005). Porto Alegre.

Almanaque do Correio do Povo (1916). Porto Alegre.

Boletim da FRGF (jan./fev. 1956). Deliberações da diretoria e da
presidência. Porto Alegre.

Memorial Hermínio Bittencourt (2005). Porto Alegre.

Revista Placar (1994). 80 Anos de Seleção Brasileira.

Coimbra, David & Noronha, Nico (1994). A História dos Grenais.
Porto Alegre. Artes e Ofícios Editora.

Filho, Mario (2003). O Negro no Futebol Brasileiro. Mauad.

Freitas, César (2004). Revista Goool. Porto Alegre. Editora Cycnus.

Helal, Ronaldo; Soares, Antonio & Salles, José (2004). Futebol.
Atlas do Esporte Brasileiro.

Amaro Jr., J. (1946). Almanaque Esportivo. Porto Alegre. Gráfica
Thurmann.

Mascarenhas de Jesus, Gilmar (2001). A bola nas redes e o enredo do lugar: uma geografia do futebol e de seu vento no Rio Grande do
Sul.
Tese de Doutorado em Geografia, Programa de pós-graduação
em Geografia Humana, Universidade de São Paulo.

Mazo, Janice (2003). Clubes esportivos e recreativos em Porto
Alegre
– RS. Atlas do Esporte no Brasil.

Ostermann, Ruy Carlos (1999). Meu coração é vermelho. Porto
Alegre. Editora Mercado Aberto.

Pires, Edison (1967). Grêmio Foot-Ball Porto-Alegrense, Passado
e Presente de um Grande Clube
. Porto Alegre.

Porto Alegre, Achylles (1940). História Popular de Porto Alegre.
Porto Alegre.

Silva, Cezar (1972). Esporte Clube Cruzeiro, 59 Anos. Gráfica
Modelo. Porto Alegre.

Sortica, Júlio (2003). Esporte Clube São José, 90 Anos de Paixão
e Glórias de um Grande Clube. Porto Alegre. Gráfica Brasil.

www.cref2rs.org.br/atlas

sexta-feira, 9 de março de 2007

O racismo mancha o futebol gaúcho

por Nico Noronha, do Pelé.Net

PORTO ALEGRE - O volante Jeovânio Rocha do Nascimento, do Grêmio, um negro de 1,73m e 76kg, nascido em Goiânia há 28 anos, é a mais nova vítima do racismo, algo que têm sido muito combatido neste começo de século, mas que insiste em manchar de forma especial o futebol gaúcho. No último domingo, dia 5, após Jeovânio receber um cotovelaço no rosto, aplicado pelo zagueiro Antônio Carlos, do Juventude, esse foi expulso e deixou o gramado esfregando o dedo na pele do braço, num indesmentível gesto de preconceito, além de ter gritado a palavra "macaco".

Como o próprio Antônio Carlos falou depois, no calor da disputa desferir palavrões dos mais variados é algo comum e não deveria ultrapassar as linhas do gramado. Há, inclusive, um grande número de pessoas ligadas a esse universo que concorda com tal posição. Mas não Jeovânio, que vestindo a camiseta do movimento de reação ao racismo, cada vez mais forte e amplo, decidiu que vai processar judicialmente o ex-zagueiro da Seleção Brasileira, mesmo que esse tenha feito um pedido público de desculpas.

"Ninguém pode julgar uma pessoa pela cor, me senti mal, humilhado, e não é porque ele pediu desculpas que está tudo bem", resumiu Jeovânio, para quem o episódio ocorrido no estádio Alfredo Jaconi, em Caxias do Sul, região predominantemente de italianos, foi a gota d'água no processo de humilhação que vem de longa data.

Na seqüência da bola de neve de sua indignação, relatou episódios anteriores, dos mais revoltantes. Numa ocasião, estava na frente do flat onde mora, na Avenida Borges de Medeiros, em Porto Alegre. Descera para telefonar do orelhão. Alguém viu aquele negro em frente ao prédio luxuoso e telefonou para a Brigada Militar denunciando um possível assalto. O volante foi constrangido, teve de deitar na calçada, e depois de explicar quem era, recebeu um rápido pedido de desculpas dos policiais, que rapidamente entraram no camburão e se mandaram do local.

Outro fato ele relatou ao jornal Zero Hora, em sua edição desta segunda-feira. Levara a mulher e o filho para almoçar em um shopping da capital gaúcha, e no momento em que estacionava seu Audi, ouviu claramente a frase de um desconhecido que passava ao lado: "Se esse aí não for jogador de futebol, é ladrão".

Jeovânio diz que, num momento desses, "dá vontade de chorar". Aquele, acrescentou o jogador gremista, "foi o dia mais triste da minha vida, pois fui humilhado na frente da minha mulher e do meu filho".

Serra gaúcha fica com má fama

No mesmo estádio Alfredo Jaconi, onde o jogador do Grêmio sofreu mais uma vez com o preconceito racial, um craque do Internacional viveu situação parecida, em outubro do ano passado. Tinga, no jogo em que o Colorado foi derrotado pelo Juventude, no Brasileirão, a cada vez que pegava na bola, ouvia grande parte da torcida imitar um macaco, além de entrar pelos seus ouvidos a própria palavra.

Uma agressão tão volumosa e acintosa, que o árbitro Alicio Pena Júnior chegou a interromper o jogo e solicitar que a diretoria do clube tomasse providências, pois do contrário o espetáculo não teria continuidade. "Nunca tinha visto algo parecido", comentou depois o juiz, tão surpreso ficara com a mobilização racista.

Os dirigentes do Juventude disseram ter orientado os responsáveis pelo sistema de alto-falantes a pedir que os torcedores parassem com aquilo, o que ninguém na verdade ouviu, mas de qualquer forma a partida seguiu e os gritos e as imitações pararam.

O clube acabou sofrendo uma multa de R$ 200 mil e perdeu o mando de campo em dois jogos. Mais tarde, a pedido do alviverde de Caxias, o caso foi reavaliado pelo STJD e a multa suspensa.

Mesmo diante do susto, os dirigentes do Juventude continuam a relevar os atos racistas, tanto que o presidente Iguatemi Ferreira, além de deixar claro que não aplicaria qualquer punição a Antônio Carlos pelo fato ocorrido neste último domingo, ainda deu a seguinte declaração: "Estão vendo chifres em cabeça de cavalo. Vão começar com essa história de novo?".

Certamente ele não teme nenhum prejuízo ao clube. O próprio Tinga, alvo do preconceito em 2005, no Jaconi, comentou esta semana, no momento em que embarcava para o México, onde o Inter foi jogar com o Pumas, pela Libertadores da América: "Tudo vai continuar como está".

"Macaco imundo", dizem os gremistas para os colorados
Já é uma tradição. Sempre que é disputado um clássico Gre-Nal, os jogadores e os torcedores do Internacional escutam os cantos vindos das torcidas organizadas do Grêmio, inclusive patrocinadas pelo clube, com expressões racistas.

Uma dessas torcidas, a Geral do Grêmio, incluiu em seus versos "macacos imundos" e "macacos do Internacional". Sempre foi assim, mas agora, diante de todos esses fatos novos e do movimento anti-racismo, a atitude terá de ser reavaliada, pois o clube poderá sofrer punições graves.

Um dos mais importantes dirigentes do Grêmio, o vice-presidente do Conselho de Administração, Marco Antônio Scapini, declarou nesta semana que já havia solicitado à torcida que insiste na expressão "macaco", que a substitua por "colorado". Ou seja, sugeriu que gritem "colorados imundos". Segundo ele, não são todos os torcedores que agem dessa forma, "apenas uma minoria de insanos".

Desde outubro de 2004 não ocorre um clássico Gre-Nal, devido ao fato de que o Grêmio foi rebaixado para a segunda divisão e não disputou o Brasileirão 2005 - além de não ter chegado à decisão do Campeonato Gaúcho -. Mas, agora, os dois grandes do Sul estão praticamente garantidos na final do Estadual, com o que se enfrentarão com estádios lotados. Chamados de "macacos", como reagirão os colorados? E os dirigentes dos dois clubes, o árbitro, e a Justiça?

Grêmio só aceitou negros em 1952
O Grêmio, clube de origem germânica, fundado em 1903 por jovens da alta sociedade porto-alegrense que tinham sobrenomes como Bohrer, Kallfelz, Schuck e Uhrig - todos integrantes da primeira diretoria - só decidiu aceitar o ingresso de atletas negros nos seus quadros na segunda metade do século XX.

Em fevereiro de 1952, o presidente Saturnino Vanzelotti, assinou o documento histórico. Ele diz, exatamente: "A Diretoria do Grêmio Futebol Porto-Alegrense vem trazer ao conhecimento de seus associados e simpatizantes, por decisão unânime, que resolveu tornar insubsistente a norma que vinha sendo seguida, de não incluir atletas de cor em sua representação de futebol. A decisão tomada com convicção, após cuidadoso exame da situação, ausculta, acima de tudo, não só as determinações da Carta Magna, como a imposição expressa de nossos próprios estatutos".

A decisão tinha uma motivação forte. Nos últimos 20 anos o clube que só mandava à campo jogadores da cor branca, conquistara apenas duas vezes o campeonato regional, enquanto o Internacional, principal rival, e que desde os anos 30 se utilizava de negros, no mesmo período vencera 12 campeonatos. "Era negro? Era bom? Era nosso", foi uma frase imortalizada por um dos presidentes colorados dos anos 40, Abelard Jacques Noronha.

Apesar do "canetaço" abolindo o racismo, a tradição se perpetuou na mente de muitos gremistas e, até hoje, constrange alguns jogadores. Para a temporada 2003, por exemplo, o Grêmio investiu alto e contratou o centroavante Christian, que havia feito história no rival Inter, onde era conhecido como o "Deus Negro Colorado", expressão criada por um narrador de Porto Alegre e adotada pelos torcedores.

Pois no dia 9 de fevereiro daquele ano, com contrato recém assinado com o Tricolor, Christian foi assistir a um Gre-Nal das cadeiras do Olímpico, espaço nobre do estádio. Levou irmãos, pai, e distribuiu autógrafos como todo grande ídolo. O constrangimento veio quando o Inter, seu ex-clube - que tem como símbolo o negrinho de uma perna só, o Saci - entrou em campo, e todos ao seu lado se levantaram e passaram a gritar "hu! Hu! Hu!" e a imitar macacos.

E não foi só. Quando, na mesma temporada, com a camisa do Grêmio, foi ao Beira-Rio para disputar um clássico pelo Brasileirão, no qual foi o autor do único gol - em 12 de outubro de 2003 - ouviu de alguns colorados ofensas como "negro sujo", "traidor" e "vendido".

Até quando isso vai continuar, não se sabe. Mas os dirigentes e a Justiça gaúcha começam a combater de forma mais agressiva o racismo. O Tribunal de Justiça Desportiva, antes mesmo do julgamento do zagueiro Antônio Carlos, marcado para a semana que vem, suspendeu o jogador preventivamente por 60 dias, numa prova de que repudia o gesto e indica uma punição séria ao atleta.

E a Comissão de Arbitragem da Federação Gaúcha de Futebol também já toma atitudes. Luiz Fernando Moreira, seu presidente, declarou na terça-feira: "A partir de agora os árbitros chamarão os capitães no início dos jogos para alertar: racismo dá rua".

Craques já sofreram no Sul

Em entrevista concedida nesta quarta-feira ao programa Espaço Aberto - Esportes, da Globonews, o ex-jogador Paulo César Caju, ao abordar o tema "racismo", contou uma história ocorrida com ele e com os demais atletas do grande Botafogo do final dos anos 60. Coincidentemente, o episódio se deu no Rio Grande do Sul.

Ele contou que em 1968 o time fez uma excursão por algumas cidades do interior gaúcho e... "Fomos jogar em Erechim, em Livramento, em Bagé. E foi em Bagé que fomos convidados para um jantar. A equipe tinha oito negros. Quando chegamos ao local, vimos uma placa na frente que dizia: Proibida a entrada de negros".

Paulo César diz que foi ali, naquele momento, que decidiu comprar briga pela causa negra e se tornou uma figura polêmica. Na década seguinte jogaria na França, tomaria contato com outra cultura, veria negros respeitados, imponentes, e voltaria para o Brasil ainda mais radical. "Mudei a cabeça e mudei o cabelo", brincou, referindo-se ao novo corte de cabelo que apresentou, então pintado à caju.

O episódio de Bagé reforça uma tradição que tem manchado o Rio Grande do Sul, como um Estado preconceituoso. Na predominância branca, bem acima da média nacional estaria a raíz disso tudo? Impossível dizer. Segundo dados da Unicamp, mostrados em seu site na Internet, enquanto no Brasil o percentual de brancos é de aproximados 50%; no Rio Grande sobe para 80%.

Já o Wikipedia, site que se anuncia como a "enciclopédia livre" do mundo virtual diz, precisamente: "O Estado do Ro Grande do Sul pode não ser considerado um estado brasileiro, pelos seus baixos índices de criminalidade e pela sua cultura influenciada de italianos e alemães".

Mas o Rio Grande é brasileiro, e deve tratar de combater essa imagem com veemência cada vez maior. A oportunidade de fazer isso surge em conseqüência dos atos que ocorrem nos campos de futebol, pois ali ganham repercussão mais abrangente.

http://esporte.uol.com.br/ultimas/2006/03/09/ult1334u814.jhtm